TEXTOS

1 - O TRAJETO COMO TENDÊNCIA
SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1998,

      O gesto criador está sendo apresentado como um movimento com tendência. Discutiremos, a seguir, alguns aspectos que envolvem tal caracterização. O que é um trajeto com tendência ?
      Muitos criadores referem-se a essa espécie de rumo vago que direciona o processo de construção de suas obras. Peter Brook (1994) descreve essa tendência como uma intuição amorfa, que dá senso de direção; Borges (1984), como um conceito geral e Murray Louis (1992), como uma premissa geral. O trabalho de criação não passa da perseguição a uma miragem, para Maurice Béjart (1981).

 
      Maillol (1997) e Rodin (1990) carregam a tendência de suas esculturas com suas formas próprias de expressão. Para Maillol, a escultura deve ter a menor quantidade possível de movimento; e Rodin explica que o direcionamento é dado pelo movimento geral da escultura. Qualquer um que tenha contato com as obras desses artistas compreende a relevância do papel desempenhado pela relação estaticidade/ação.
      É interessante notar que, no caso de Rodin, esse movimento geral de natureza vaga aparece nos primeiros esboços envolto em uma espécie de névoa – uma ação como contornos pouco nítidos trabalha com painéis de grandes dimensões. Para ele, as maquetes são formas de se colocar no espírito daquela obra que está por se realizar.
     Intuição amorfa, conceito ou premissa geral e miragem são alguns modos de descrever o elemento direcionador do processo.
      O artista, impulsionado a vencer o desafio, sai em busca da satisfação de sua necessidade. Ele é seduzido pela concretização desse desejo que, por ser operante, o leva à ação.
 
      O artista é atraído pelo propósito de natureza geral e move-se inevitavelmente em sua direção. A tendência é indefinida, mas o artista é fiel a essa vagueza. O trabalho caminha para um maior discernimento daquilo que se quer elaborar. A tendência não apresenta já em si a solução concreta para o problema, mas indica o rumo. O processo é a explicitação dessa tendência. “No começo minha idéia é vaga. Só se torna visível por força do trabalho” (Maillol, 1997).
      A tendência mostra-se como um condutor maleável, ou seja, uma nebulosa que age como bússola. Esse movimento dialético entre rumo e vagueza é que gera trabalho e move o ato criador.
      Marguerite Duras (1994) descreve a escritura como o desconhecido, em meio a total lucidez. O dramaturgo Edward Albee explica essa relação, de modo bastante contrastante. “Nenhum escritor sentaria e colocaria uma folha de papel na máquina e começaria a escrever uma peça, a não ser que soubesse sobre o que está escrevendo. Mas, ao mesmo tempo, o processo de escritura tem a ver com o ato de descoberta. Descobrir sobre o que se está escrevendo” (1983, p. 341). A criação vai acompanhando a mobilidade do pensamento.
      A descoberta de Albee é guardada, por Cortazar(1991, p. 31), em zonas e sombra que sempre restam quando ele “sente” seus contos. A vagueza do rumo leva à sensação de que se trata de algo que está por ser melhor conhecido: “Tenho a sensação mortificante de que, falando do filme antes de fazê-lo, falho com a descrição, como aqueles fanfarrões vaidosos que se metem a falar sobre uma mulher que acabaram de conhecer” (Fellini, 1986ª, p. 117)
      O processo criador é um percurso com “um objetivo a atingir, um mistério a penetrar”, de acordo com Picasso” (1985). A intenção do artista é pôr obras no mundo. Ele é, nessa perspectiva, portador de uma necessidade de conhecer algo, que não deixa de ser conhecimento de si mesmo, como veremos, cujo alcance está na consonância do coração com o intelecto. Desejo que nunca é completamente satisfeito e que, assim, se renova na criação de cada obra.
      Por isso, Italo Calvino (1990, p. 72) prefere escrever a falar pois escrevendo pode emendar cada frase quantas vezes ache necessário, para “ficar, não digo satisfeito com as minhas próprias palavras, mas pelo menos a eliminar as razões de insatisfação de que me possa dar conta”.
      “Mal terminado um quadro atira-se para o seguinte na ânsia de achar satisfação para aquilo que interiormente o inquieta” (Lasar Segall). Se sua obra chegasse a se equiparar com a imagem que ele faz dela, só lhe restaria precipitar-se do pináculo dessa perfeição definitiva e se suicidar (Faukner, citado por Sábato, 1982).
      A arte é uma doença, é uma insatisfação humana; e o artista combate a doença fazendo mais arte, outra arte. Fazer outra arte é a única receita para a doença estética da imperfeição (Mário de Andrade, 1989) – um processo que fica sempre por se completar, um desejo que fica por ser totalmente satisfeito.
      O próprio Mário (1982, p. 210), quando termina uma de suas obras, diz a seu amigo Drummond que fez ainda várias modificações mas que agora está, senão satisfeito, mais sossegado.
      “Será que algum dia alcançarei o objetivo buscado há tanto tempo e de forma tão sôfrega?“, pergunta-se Cézanne (1972, p. 336), em seu diário. “Espero. Mas enquanto não é atingido, um sentimento vago de desconforto persiste e não vai desaparecer até que eu tenha alcançado o porto, isto é, até que eu alcance algo mais promissor do que alcancei até agora”.
      Stanislavski (1983, p. 275) discute, também, essa busca incessante: “Há uma satisfação estética, que nunca chega a ser totalmente completa e isto desperta nova energia”.
     Essas afirmações põem em questão, como se pode perceber, a visão do processo criador como um caminho da imperfeição para a perfeição, que estaria associada à necessidade plenamente satisfeita.
      Há uma forte relação entre tendências e desafios que, para se manterem como tais, precisam estar sempre em mutação. Klee (1990, p. 201) diz que, toda vez que se aproxima bastante de seu objetivo, a intensidade perde-se muito rapidamente, e precisa procurar novos caminhos. Pois produtivo e essencial é precisamente o caminho. Os papéis que ela não sabe fazer é que estimulam Fernanda Montenegro (1997). E Kurosawa (1990, p. 201) critica as pessoas que refazem continuamente filmes que foram sucesso no passado. Não tentam sonhar novos sonhos; apenas repetem velhos sonhos.
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2 - O PROCESSO ARTÍSTICO
pareyson, Luigi: Estética: teoria da formatividade. Petrópolis, Rj: vozes,  1983

A formação da obra de arte é um puro tentar.
Ora, se na arte não existe outra lei senão a regra individual da obra nem outro critério senão o resultado como tal, dever-se-á dizer que o procedimento da arte é puro tentar: um puro tentar que não se apóia senão em si mesmo e no resultado que se espera obter. É de se perguntar, então, o que é que orienta o artista no decurso de sua formação, porque pode parecer que a série das tentativas de que deve nascer a obra não tenha guia e esteja abandonada só a si mesma, como aventura que ninguém sabe como vai terminar, o que de certo modo acabará ou em fracasso ou em sucesso, de sorte que só resta confiar na boa estrela.

E certamente a experiência real dos artistas atesta que a formação da obra de arte tem algo de aventura: a operação artística é um procedimento em que se faz e atua sem saber de antemão de modo preciso o que se deve fazer e como fazer, mas se vai descobrindo e inventando aos poucos no decorrer mesmo da operação, e só depois que esta terminou é que se vê claramente que aquilo que se fez era precisamente o que se tinha a fazer e que o modo empregado em faze-lo era o único em que se poderia faze-lo. Não há outro modo de encontrar a forma, não há outro modo de saber o que se deve fazer e como fazer, senão efetuando a obra, produzindo-a, realizando-a. Não que o artista tenha imaginado completamente sua obra e depois a executou e realizou, mas, sim, ele a esboça justamente enquanto a vai fazendo.

A forma se define na mesma execução que dela se faz, e só se torna tal ao termo de um processo em que o artista a inventa executando-a. A descoberta ocorre apenas durante e mediante a execução. E só operando e fazendo, ou seja, escrevendo ou pintando ou cantando o artista encontra e inventa a forma. Enquanto não se encerra o processo, não há forma, e tudo ainda está em jogo, e o menor desvio pode levar ao fracasso, e o que deveria ligar-se e concatenar-se pode dissolver-se e dispersar-se, de sorte que somente o êxito pode garantir o autor de ter chegado a bom termo. A produção artística é uma aventura, e com razão já se disse que o artista é um jogador tentando a sorte: sua execução é ao mesmo tempo procurar e encontrar, tentar e realizar, experimentar e efetuar. Ele deve fazer a obra, e somente depois da obra acabada é que se poderá dizer se ele encontrou a forma. Antes, nada se pode dizer, pois no curso do processo domina a incerteza e o perigo do fracasso. Mesmo nos casos em que o artista, violentamente pressionado pela irrupção de uma imagem, julga ter claramente a idéia do que fazer, não tem nada porém que o garanta de que pôr mãos à obra não seja mais que mera execução segura do próprio resultado almejado, pois a idéia é experimentada e provada pela realização que se lhe dá. Assim, só lhe resta proceder tentando e experimentando. E só depois de acabado o processo, concluída a obra, terminada a formação, é que ele saberá o que deveria fazer e como deveria faze-lo, pois já terminou o que deveria fazer e o executou com pleno sucesso.



Franz Kline em seu ateliê








O tentar artístico não é destituído de guia.
Embora endossada por doutrinas filosóficas e até por testemunhos de artistas, a teoria afirmando que produzir é apenas dar forma a uma imagem interior não consegue explicar o processo artístico. Dizer que o artista primeiro acha a forma e depois a executa, de sorte que a reprodução de uma obra artística se torna a execução em sinais físicos de uma imagem interior já completa e formada, significa deixar escapar a natureza do processo artístico. Pois separa-se arbitrariamente a invenção da realização. O fazer é posterior à invenção do modo de fazer, a regra individual da obra precede a execução desta, e a produção artística perde seu caráter formativo e tentativo.

Quem afirma existir, antes da execução da obra, uma imagem interior já formada tenta, sem dúvida, explicar um fato inegável: que o artista, ao produzir, procede como se algo o guiasse. O artista sabe com certeza quando falhou em captar o sinal e quando o captou. Sabe reconhecer a descoberta autêntica da tentativa falha; distingue com suficiente exatidão o sinal que é preciso suprimir ou substituir ou corrigir daquele que se pode manter firme e definitivo. Essa segurança de juízo pode fazer pensar que haja na mente do artista uma imagem já completa, à luz da qual ele poderia reconhecer os próprios êxitos e fracassos. E, com efeito, o que permite ao artista reconhecer que encontrou senão comparando aquilo que vai fazendo com o que procurava?

Mas o artista não dispõe de um guia evidente, como seria uma imagem interior já completa e formada. Seu caminho não é marcado e seguro, como se lhe bastasse enveredar por ele para chegar a bom termo, contanto que não apareçam dificuldades de execução técnica. Trata-se de um processo em que o artista vai procurando e tentando, amparado e orientado por uma só certeza: que, se a busca fosse compensada pela descoberta, se a tentativa culminasse no êxito, ele saberia imediatamente reconhecer ter acertado no alvo. Assim, para explicar a insatisfação do fracasso e a alegria da descoberta não é necessário recorrer logo à hipótese de haver no artista uma idéia clara e definida. O artista reconhece que encontrou o que buscava não em virtude daquela imaginária presença, mas porque o resultado obtido preenche uma expectativa sua e satisfaz uma exigência. A execução é, portanto o incerto caminho de uma procura, em que o único guia é a expectativa da descoberta.





O pintor Francis Bacon em seu ateliê




Mas essa incerteza do artista no decorrer da produção e este sentido de aventura na formação da obra não bastam para que se imagine que a execução esteja abandonada a si mesma e, apesar disso, consiga fazer-se decorrer do processo, ela mesma, invenção e descoberta. Acentuando, no processo da arte, simultaneidade de invenção e produção, alguns não se contentam em dizer que a forma só existe depois de acabada a execução, mas chegam a afirmar que a própria realização da obra é invenção da imagem que nela toma corpo. Desse modo, a invenção é considerada não só simultânea à execução, mas redutível a ela, como se o próprio fazer implicasse, de per si, no decorrer da realização, a invenção do modo de fazer, e a tentativa, confiada aos tateios da pura procura, gerasse por si os próprios bons resultados. A regra individual da obra vem justamente depois da operação, e a descoberta se deixa aos achados casuais de uma execução abandonada a si mesma.

Mas se é verdade que a execução é uma abertura, nem por isso se pode dizer que se baste a si mesma, não tenha guia nem critério, confiada à própria peripécia e condenada a se alimentar do acaso. Se no curso da produção não existe direção atualmente operante, não há tampouco aventura, mas vagar sem meta, não há tampouco tentativa, mas cego e vão apalpar. Pois a aventura já encerra tendência à descoberta e esperança de sucesso que já bastam para orientá-la e a tentativa já sofre como tal a atração do resultado. Como poderia a execução abandonada a si mesma traçar o próprio rumo, e transformar o já feito em indicação do que se deve fazer? Afirmar que o artista é no fundo, apenas espectador da própria obra, no sentido de ter sua idéia não antes ou durante, mas só depois da execução, significa não captar a natureza do processo artístico em que opera, com abscondita mas vigorosa eficácia, o presságio da obra, a esperança do sucesso, a expectativa do descobrimento.



As tentativas são guiadas pelo presságio da descoberta
O próprio conceito de um tentar que tem como único critério o resultado contém a garantia de que o processo de formação não se acha abandonado a si mesmo. Mas embora tenha algo de aventura, dispõe de orientação e de guia. Justamente porque a obra de arte como puro resultado é a adequação de si consigo mesma, o processo que nela se conclui com sucesso liga os dois termos, de modo a ser guiado pela própria exigência do sucesso.

{...} Tentar não é nem andar às cegas nem caminhar com plena segurança; nem vaguear no escuro até o momento da súbita iluminação, nem seguir um caminho todo iluminado. O tentar não é tão incerto que signifique puro tatear, nem tão seguro que siga pela estrada principal, mas antes se constitui de um misto de incerteza e segurança, onde enquanto durar a busca, o risco não instaura o reino do acaso e a esperança não se torna ainda certeza. A tentativa tem algo de ordem e desordem ao mesmo tempo, de sorte que a guia nunca é assim tão evidente que indique de antemão a sua descoberta, e a série dos fracassos não é nunca tão desastrosa que não se converta em alguma sugestão do resultado feliz.

O tentar não é nem ignorar o caminho nem enveredar pela estrada, mas antes ir abrindo o próprio caminho: não é a vertiginosa abertura de infinitas possibilidades equivalentes nem a exata consciência de uma possibilidade única a realizar, mas o esforço para desemaranhar de um nó de possibilidades aquela que permita o bom êxito.

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3 - O VAZIO PLENO
CLARK, Lígia, 1983

Arte, para mim, só é válida no sentido ético-religioso, ligado internamente à elaboração interior do artista no seu sentido mais profundo, que é o existencial. Toda a minha visão não é puramente ótica mas está visceralmente ligada à minha vivência do sentir, não somente no sentido imediato, mas, mais ainda, no sentido profundo que não se sabe onde está a sua origem. O que uma forma pode expressar só tem sentido, para mim, em relação estreita com o seu espaço interior, vazio-pleno da sua existência, assim como existe o nosso que vai se completando e tomando sentido à medida que a maturidade chega. Às vezes, penso que, antes de nascermos, somos como um punho fechado que abre o primeiro dedo quando nascemos e vai se abrindo interiormente como pétalas de uma flor, à medida que achamos o sentido da nossa existência, para num determinado momento termos consciência dessa plenitude de um vazio-pleno (tempo interior). Nesse instante atingimos uma concepção ético-religiosa que contraria toda a existência de um Deus fora da gente: ele está dentro de nós e é o que de melhor temos: a idéia de vida e morte nos abandona já não existem essas duas polaridades. O que conseguimos transmitir numa obra de arte não é mais do que um momento de estática dentro da dinâmica cosmológica de onde viemos e para onde iremos. É um flash deste infinito materializado no finito. Como se fosse uma parada no tempo. É um pedaço de eternidade. O homem busca o seu tempo interior e quando o encontra, ele já vivencia toda a sua origem. É nesse momento que ele ultrapassa a fronteira vida-morte. 


Obra "As meninas" do espanhol Velasquez

A angústia do tempo exterior (um dia depois do outro) que está relacionada com a mesma angústia existencial (o porquê das coisas em relação a ele) desaparece, pois ele começa ai a abstrair essa realidade exterior. Ela existe, porém ele não é mais invadido por ela no sentido prático-mecânico. Ele e ela passam a ser uma coisa só, no seu profundo sentido existencial. A realidade passa a ser um suporte de meditação ou um campo magnético onde ele, artista, se identifica com os tempos. Nesse momento, ele percorre toda a sua origem. Acabou o princípio vida e o fim morte. A obra de arte é a materialização desta fusão. É o que a faz eterna ou transcendente. Outros menos criativos sentirão, através da obra do artista, esse momento como resposta a uma pergunta de sentido universal. A vida só existe em relação às polaridades. Aí começa a relação entre vida e arte. Na arte, buscamos o vazio (de onde viemos) e quando o descobrimos valorizado é que descobrimos o nosso tempo interior. A aceitação da vida (dinâmica contraditória), o silêncio e a não-formulação passaram a ter significação como o cheio e a formulação. É o olhar para dentro de si. É a situação do homem no seu espaço - o começo da realização interior: maturidade. É o corte de situações antigas em que o indivíduo só existia em relação-função a elas. O homem não está só. Ele é a forma e o vazio. Vem do vazio para a forma (vida) e sai desta para o vazio-pleno que seria uma morte relativa. Para se atingir este estado de plenitude é preciso reviver todas as suas vivências anteriores, enfrentá-las - o que significa libertação. Aí ele atinge um estado de ética no mais alto sentido. Enquanto o vazio permanece desligado do outro lado (vida) é preciso debruçar-se sobre ele, como um abismo, e vivenciar nele o Nada, a Morte, falta de significado. Todo homem sente este estado interior. O artista através da obra de arte mostra a ele esta fatia da eternidade. É uma mensagem profundamente religiosa no mais alto sentido ético, valorizando este sentido do vazio não-significativo. As formas assim como todas as coisas exprimem mais do que sua simples presença física (medida e peso). É como se cada coisa irradiasse uma energia conjugada com a energia do espaço vivo e real. Quando se coloca um objeto num espaço grande demais em relação a ele, o espaço não deixa de ser vazio e morto, mas quando este objeto encontra o seu espaço, então o espaço que o rodeia é pleno. Se o objeto é colocado perto demais de outros objetos, eu sinto duas forças contraditórias se batendo uma contra a outra. 

Obra de Ticiano, um dos mestres da cor

O homem tem essa irradiação maior que, de qualquer objeto e maior que a dos outros animais. É como se, por ser um vertical, ele se apoiasse na terra menos que os outros animais. Então a procura da sua transcendência vem em contraposição a essa polaridade (terra-espaço) com a teimosia e a intensidade de um ser privilegiado, terrivelmente angustiado, sendo jogado sempre para cima, preso pelos pés pelo lado orgânico da sua origem animal. No momento em que arrebentando o retângulo invertendo virtualmente a superfície que, deixando de ser a espessura do espaço passa a ser o fio desse espaço, essa expressão já se dá dentro desse espaço real onde atuam todas as forças irradiadas, vivas e cosmológicas. A expressão é identificada imediatamente com essa irradiação orgânica-homem, dentro da mesma dinâmica real. Na Escultura houve muito antes esta necessidade, pois antes o problema era o volume. Depois ela foi se vazando e hoje é a complementação vazio-forma que a identifica como necessidade atual de expressão. Na Arquitetura a necessidade hoje é a mesma. Não existem coisas estáticas. Tudo é dinâmica. Mesmo um objeto aparentemente estático não está parado. Ele está apoiado sobre uma série de suportes que por sua vez estão sendo dinamicamente sugados pela força da gravidade. A minha pintura exprime, pois, uma nova realidade em que a obra de arte se expressa como um objeto vivo, como eu e você. No sentido de uma identificação com a realidade da nossa época: quando o homem vivia com mais espaço, ele podia se satisfazer, pois a natureza era um pouco o seu habitat, ele acordava quando a luz se abria sobre ele e dormia quando a noite se fechava. Havia bastante espaço e integração deste com a natureza. Na época atual, porém, ele se confina entre grandes edifícios esprimido nas suas próprias necessidades de irradiações, sem ter pois um espaço no sentido horizontal que seja um suporte para a sua espiritualidade. Então é coerente que ele procure conquistar o espaço tendo mais necessidade do que nunca de se realizar, não só conquistando o universo como também de dar vazão a essa expressão vertical de espiritualidade. Enquanto a ciência conquista um lado, é essencial que o indivíduo conquiste esse seu tempo interior tomando consciência desse sentido ético-religioso para que ele não se perca e não se destrua.


“O vazio-pleno”, Jornal do Brasil, 2 abril 1960,
Rio de Janeiro, Suplemento dominical, p. 5.

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4 - COMO PERCEBEMOS AS CORES?

Cristina Pape
doutora em Linguagens Visuais pela UFRJ - Escola de Belas Artes. Professora Adjunta da UERJ 
Resumo: Observações sobre a diferença que existe entre a percepção da cor e da forma. A cor é entendida pela maioria dos estudiosos da percepção como um deflagrador imediato de um processo emocional, logo, afetivo  e a forma desencadearia um processo racional exigindo do observador um pensamento para sua leitura. Afirma-se também que a cor não existe isoladamente e sim em relação com seu contexto. Afirmações feitas, a fenomenologia não entende que assim se possa ver a cor. Ela é associada à sua forma e não pode ter vida própria isoladamente sem se transformar. O mundo deve ser visto de maneira integrada. O artigo tambémapresenta alguns exemplos práticos a partir de experiências de Wolfgang Goethe, Josef  Albers  e  Henri Matisse de como se pode comprovar a importância do aparelho ótico de cada indivíduo no  processo  de percepção da cor. 
Palavras-chave: amarelo, cor, arte contemporânea, fenomenologia da percepção

A percepção da cor como sensação visual é feita pelo lado direito do cérebro, enquanto a verbalização se dá pelo lado esquerdo. Existem, porém, boas diferenças entre as duas ações. A primeira depende do aparelho ótico e a segunda da estrutura da linguagem. Acredita-se que os primeiros humanos tivessem a mesma estrutura cerebral que nós e que foi, certamente, a identificação cromática  que ajudou na evolução e sobrevivência da espécie. A cor deve ter se desenvolvido separadamente da forma. O mais provável é que o homem tenha primeiramente percebido as sensações, desenvolvendo depois a verbalização. 

Testes demonstram, por exemplo, que pessoas mais emotivas percebem a cor antes da forma, como se o indivíduo estivesse mais sujeito a esses estímulos externos. Os que percebem a forma antes tendem a ser mais introvertidos e reflexivos, porque a forma, ao exigir maior organização mental, seria uma  experiência intelectual e a cor seria uma experiência emocional associada à afetividade. Assim analisam e interpretam aqueles que trabalham com o teste de Rorschach (1961). A emoção não é produto de mentes ativamente  organizadoras e como a cor não pede análise de estrutura, ao contrário da forma, ela pode ser percebida antes daquela, o que não significa que não exista uma relação estreita entre a forma e o fundo. O que se está afirmando é que a cor é vista antes da forma, não que a cor só produziria uma experiência emocional e a forma uma intelectual. 

Existem os pesquisadores que acreditam que “...provavelmente seja certo que a passividade do observador e a imediata experiência sejam principalmente características de respostas a cor, enquanto que o controle ativo seja específico da percepção da forma” (ARHEIM, 1962, p. 276). O autor sugere, segundo a Gestalt, que no lugar de se falar em resposta à cor ou à forma, melhor seria dizer que para a primeira haveria uma atitude receptiva ao estímulo visual colorido, mas que também pode ser aplicado à forma, e uma atitude mais ativa que prevaleceria para a percepção da forma sem excluir por completo a cor. 


Obra do minimalista Dan Flavin

Afirmar que a forma é mais claramente percebida pelos olhos é contribuir para a noção de que ela se mostra sem sofrer a interferência de outras formas, o que já não 
acontece com a cor, completamente relativa ao colorido do meio circundante. O que se acredita também é que a percepção da forma não é fruto de variações emocionais do observador, então, ela exige um tipo de raciocínio para ser apreendida. A cor pode se tornar tão marcante a ponto de qualquer situação deflagrar uma alteração perceptiva do mundo, ao contrário da forma, que exige um tempo antes de ser entendida. Mas se a cor vem da percepção emocional, ela se associa a uma maneira diferente de apreensão do mundo, com a qual a fenomenologia tem trabalhado.

Pode-se dizer entretanto que a cor amarela tem autonomia, mas deve, fenomenologicamente, estar integrada à forma, como alerta Merleau-Ponty. O homem é um espírito com um corpo e um corpo habitado  por um espírito. Ambos são inseparáveis. Assim devem ser cor e forma. “A unidade da coisa não se encontra por trás de cada uma de suas qualidades: ela é reafirmada por cada uma delas, cada uma delas é a coisa inteira”. (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 22). Tentar trabalhar com a cor sem considerar a forma, pode ser pensada como uma inversão da  discussão do desenho e da cor proposta nos séculos XVI e XV. Mas há que se considerar que a cor pode ser prioritária, já que a forma é percebida depois - como de fato é. Isso  levaria a pensar que a forma não tem tanta importância na criação da obra. Pode ser até importante dizer que a forma não a suporta, explodindo seus limites.

Cada princípio estético ao longo da história da arte estabeleceu relações próprias entre cor e forma. Na contemporaneidade, Barnett Newman constrói sua pintura de maneira que o observador não consiga dominá-la totalmente, porque seus campos de cor são imensos, e mais, sugere que sejam vistos de perto, aumentando assim a sensação de se estar dentro do colorido, envolvido e sendo afetado por ele, mas, no entanto, acrescentou às suas telas o que chamou de ZIP – cortes verticais na cor - como uma linha espiritual que rompe o vazio, como se não fosse possível a convivência com este. Seria a dimensão monumental de suas cores na tela contra a parede um temor, quem sabe seria a ZIP o despertador para o mundo, retirando do sujeito a intensidade dessa cor que é capaz de deflagrar o emocional, já que se impõe e não passa despercebida?

Carlos Zílio (1994) analisa a obra de Newman e discute dois aspectos: o primeiro é a constante tentativa que o observador faz para ajustar figura e fundo, e o segundo é sobre a 
simetria, porque ao se procurar o centro do campo de cor da tela, na verdade encontra-se uma assimetria formada pelos campos laterais.  Na eterna tentativa de se encontrar uma referência central e o deslocamento para as laterais, o que restará será uma cor formada por todo esse movimento, mas os imensos campos de cor estabelecem uma relação de espaço e tempo para o espectador. São fragmentos gigantescos, e como Zilio destaca “no final, resta a sólida evidência luminosa da área colorida como presença da totalidade” (ZILIO, 1994, p. 355). Essa presença colorida seria a relação  entre cada parte da tela como fragmento construindo um imenso campo de cor, que como totalidade se apresentará. Para muitos as formas nem sempre são importantes nas experiências com a cor e, aquelas sem definição, não geométricas, podem ser as que melhor acolhem as cores pela ausência de disputa entre forma e cor. Seria afirmar que a melhor forma é a não forma, o amorfo, o amebóide, o que não tem sentido permitindo à cor, impactante, sensação visual pura, atuar diretamente sobre o observador. 

Sartre  diz, em O ser e o nada, que a qualidade “é reveladora do ser” do objeto.


O [amarelo do] limão estende-se inteiramente através de suas 
qualidades, e cada uma de suas qualidades estende-se inteiramente 
através de cada uma das outras. É a acidez do limão que é amarela, 
é o amarelo do limão que é ácido [...] Nossa relação com as coisas 
não é uma relação distante, cada uma fala ao nosso corpo e à nossa 
vida, elas estão revestidas de características humanas [...] e, 
inversamente, vivem em nós como tantos emblemas das condutas 
que amamos ou detestamos. O homem está investido nas coisas e as 
coisas estão investidas nele.(SARTRE, 2005, p.45) 

O raciocínio de Sartre nesse pequeno trecho aprisiona a cor, relaciona as partes com o todo e vice e versa. Pensar na cor isoladamente pode ser um espaço de liberdade, não há significados a serem julgados ou identificados, e a relação sujeito-cor se estabelece sem mediações. Se o corpo e o espírito atuam em conjunto, a intensidade da cor se apresenta como emoção, aparecendo antes da atuação do intelecto, forma. 

Cor e forma são diferentes maneiras de apreensão do mundo. Ver a cor e relacioná-la à forma e aroma do limão é um mecanismo bem mais complexo do que apenas receber a  cor amarela. Mas no que diz respeito à percepção da cor propriamente dita, trata-se do 
reflexo dos raios luminosos em direção  ao espaço, retendo o objeto nas camadas do espectro luminoso e devolvendo cor. E esse fenômeno será a cor do objeto.

Perceber a cor amarela das pétalas de um girassol ou da superfície de um balão é um processo bastante conhecido: a face interna da esclerótica do aparelho ótico humano possui a retina, membrana fotossensível  composta por duas camadas: superior ou pigmentar e a inferior ou nervosa. A retina funciona como um decodificador do fluxo luminoso, decompondo-o ou alterando-o através da  função seletora em cuja superfície estão os cones e os bastonetes, responsáveis pela percepção visual. Os primeiros são constituídos por fibras nervosas e compõem a parte central da retina em número aproximado de sete milhões, sendo responsáveis pela visão colorida. Os bastonetes, em número de mais ou menos cem milhões, percebem o preto e o branco. A retina capta as diferentes quantidades de luz que recebe, parcela que cabe ao homem. A flor, por sua vez, abriga um pigmento, anato ou flavoxantina, que tem o poder de absorver todo o espectro solar e refletir o determinado amarelo. São os olhos que captam a reflexão colorida. A luz que incide sobre as pétalas reage com o pigmento que devolve a faixa amarela para o meio ambiente – está é a estrutura físico-química do pigmento – que será captada pelo olho e enviada para o cérebro que a  devolverá aos olhos, resultando na cor a ser percebida. É a partir desse raciocínio que se pode dizer que cada amarelo, cada cor, será diferente por depender de interações complexas e que se cada uma é individual devido ao processo de captação; então, funcionam, como fragmentos, talvez únicos. Como falar de uma cor amarela única ou de um vermelho único?

 Van Gogh

Goethe, ao estudar a percepção da cor, entendeu que ela dependia, dentre outros fatores, da densidade do ar. O céu é azul durante o dia porque o ar está cheio de partículas 
de água que refletem os raios de ondas mais curtas, como os azuis e os violetas, quando se apresenta mais avermelhado, certamente, estará refletindo os raios de ondas mais longas. 

Defende também que cada imagem é formada pelo contorno e pela superfície. A área da superfície será sempre mais larga e precederá a da borda, a qual chamava de limbo, já que este mostraria outra cor pulsante diferente da então chamada superfície. Assim, dizia que a cor tem em si, ela mesma e a sua  oponente. O fenômeno é visível em qualquer experiência de observação de cor até o momento da saturação na retina

Ele demonstra que imagens claras tendem a se expandir, e as escuras se contraem na retina e na percepção. Chamou de totalização cromática outro fenômeno que ocorre no aparelho ótico ao imprimir as cores, o amarelo, porque tão logo a retina se satura, começa a produzir a cor antagônica, em uma tentativa de totalização cromática, não importando a relação superfície-limbo.   
Goethe evidencia que, apesar da retina precisar de certo tempo para liberar uma imagem ou uma cor, essa permanece ainda um pouco no aparelho ótico antes de desaparecer. Conclui, portanto, que no cotidiano é impossível enxergar a cor pura. O olho não está preparado para isolar cores e o contraste simultâneo participa daquele processo de ‘confusão visual’. Numa tentativa de melhor esclarecer a questão, descrever experiências pode ser eficaz: Um dos exercícios práticos é fitar determinada cor e depois olhar um espaço em branco. Imediatamente a complementar aparecerá. Ela mostra a evidência de áreas coloridas, mesmo onde a cor vista não está presente, porque após certo tempo de observação, houve uma impregnação da retina. O fenômeno desdobra-se quando o verde está junto ao vermelho, por exemplo, e já  que uma cor provoca a outra, há um pulsar constante e muitas vezes desagradável, mas amplamente utilizado pela op-art.  

O tempo de saturação varia de acordo com a cor, embora se fale de segundos. A importância da demonstração se dá por ela provar que a correspondência da cor e sua 
complementar acontece simultaneamente na retina. No segundo caso, provoca movimento contínuo, porque há enorme conflito entre as duas cores complementares juntas. 

Outra experiência é também simples: coloca-se um pedaço de papel amarelo sobre um fundo branco e observa-se a cor por aproximadamente trinta segundos. Sem desviar os olhos pode-se perceber que o fundo começa a se tornar azulado, cor que lhe é complementar. O mesmo se dará com o vermelho, que formará um alo verde em torno da imagem, e com tantas outras cores quantas possam existir. Quanto mais rapidamente a cor se impregnar na retina, tanto mais rapidamente se poderá ver sua complementar. Esse fenômeno se deve à estrutura da  retina, do cérebro, não como propriedade imanente da cor, e sim das leis da visão. Pode ser claramente observado em pequenas superfícies, como exercício; mas, em grandes áreas, é duvidoso que se possa perceber sua ocorrência, porque as cores não estariam tão destacadas nem tão isoladas, trazendo aos olhos uma aproximação da cor mais próxima ao que ali se apresenta. Talvez por isso a memória visual humana para as cores seja tão frágil. A cor pode ser alterada no indivíduo no exato momento em que é percebida e ele pode não estar vendo a cor que o outro vê, devido às diferenças de aparelhos óticos.

Ao se associar a forte capacidade da cor de se deixar alterar pelo contorno, as formulações de Paul Klee (1928) afirmam que o movimento pendular figura-fundo de mesma cor é nulo e o resultado é a monotonia, sendo impossível ver no  limbo a cor oponente. Se, por outro lado, a superfície estiver contrastada a um movimento pendular amplo, o limbo vai se mostrar evidente e o contraste se apresentará.  

Alguns autores defendem que a cor não é percebida somente pelo aparelho ótico, isto é, o homem a percebe de acordo com um estado emocional, com uma intensidade 
determinada. Por exemplo, perceber uma cor de surpresa pode provocar reações mais acentuadas do que quando ela é previsível.  Uma situação ao acaso como fragmento disperso e inusitado no meio de uma suposta linearidade provocaria uma reação que deixaria a cor mais marcada na memória do que se não houvesse sido fruto de intensidade. Quem pode garantir que uma pessoa, ao ver determinada cor amarela, não a veja emocionalmente? Isso pode levá-la a se expandir mais para uns do que para outros? O resultado seria mais psicológico do que fisiológico?


 Círculo de cores de Goethe

As características de uma cor se limitam ao campo perceptivo pessoal, embora se possa falar de um amarelo a ser imaginado. Relativizar e deixar que a imaginação construa uma cor será uma das funções da verbalização. Goethe descreve a experiência que viveu ao caminhar por um jardim cheio de papoulas vermelhas. Olhava-as fixamente quando percebeu uma espécie de chama, acima delas, com a cor que lhe é complementar: verdeazulado, depois, ao desviar os olhos das flores, percebeu que a mesma cor se apresentava aos seus olhos sem que ali houvesse qualquer papoula. Aconteceram nesse fato dois fenômenos: no primeiro, fisiológico, a retina saturada produziu a cor complementar, e no segundo, físico, a luz fez com que as cores e as formas dos objetos se mostrassem por um tempo maior, mesmo depois de não mais estarem na presença do observador. Ao perceber esse efeito, Goethe alertou para novas possibilidades para a pintura: ver algo onde nada existe. 

O mesmo vai ocorrer com outras cores, não só com o vermelho, mas é necessário saber que a mesma cor pode ter várias leituras. Não se deve aplicar as leis mecanicamente ou acreditar que existiam regras fixas para  a harmonia cromática, porque não há. “Se dizemos vermelho (nome de uma cor) e há  cinqüenta pessoas escutando-nos, é de se esperar que haja cinqüenta diferentes vermelhos em suas mentes. E podemos estar seguros de que todos esses vermelhos serão muito diferentes”
.  
Fenômeno curioso, pois o vermelho é imediatamente percebido, sendo alterado pelo cérebro a partir do momento em que o sujeito produz uma cor contrária à saturada. Como é possível que o cérebro discrimine cores puras se o fenômeno ocorre no próprio cérebro? A relatividade das cores não ocorre apenas aí, mas igualmente no fato de sofrerem múltiplas interferências, estando juntas umas às outras no mundo. Seria possível vivenciar uma cor e depois reproduzi-la? Henri Matisse (apud GAGE, 1993, p. 212) passou por uma experiência interessante e a descreve:

o efeito da cor tem real poder... tanto poder que, sob certas 
condições de luz, ela se torna substância. Certa vez quando em me
encontrava numa capela, vi no chão um vermelho com tanta 
materialidade que tive a sensação de que aquela cor não era o efeito 
da luz passando pela janela, mas ela era uma substância. Esta 
impressão foi reforçada por uma circunstância particular: no chão à 
minha frente havia um pouco de areia num pequeno montinho onde 
a cor vermelha estava projetada. Aquilo me deu a sensação de um
pó vermelho tão magnífico como eu nunca havia visto em toda 
minha vida. Agachei-me, coloquei minha mão na areia e peguei um
punhado, trouxe até meus olhos e deixei que escorresse por entre 
meus dedos: uma substância cinza. Mas não esqueci daquele 
vermelho e um dia espero estar apto a colocá-lo em uma tela.


A experiência pela qual passou Matisse certamente marcou-lhe a vida como pintor, cabendo perguntar: teria ele algum dia encontrado aquela cor tão preciosa e viva em suas memórias? Como poderia ele saber? Provavelmente nunca o soube, perseguindo a sensação intensa por toda vida - a cada nova tela vermelha, nova tentativa. Não bastaria jamais encontrar o tom desejado e usá-lo sem esquecer da relação existente entre todas as cores na tela, pois a sensação única guardada em sua memória não poderia ser refeita. A sensação ou a imanência da cor; sensação visual irreprodutível - mesmo que Matisse houvesse de fato visto e tocado o pigmento. O que fica é sempre a sensação na memória. Paradoxalmente, assim como é impossível reviver o passado, ele se torna absolutamente presente nas lembranças. O fenômeno foi fragmento único, passível de descrição, poetização, mas jamais revivido. O que virá a tona será a sensação, nunca a mesma situação, pois não se pode dizer que uma experiência cotidiana se repetirá; algo apenas possível em laboratórios. 

Como condição fisiológica humana, a memória visual para as cores é muito fraca, por estar associada às características das cores e ao fato de que cada indivíduo ter um aparelho ótico particular, que lhe confere uma capacidade de ver a cor de maneira única. Esse traço é um elemento perturbador. Pode-se dizer que a cor é a sensação mais ambígua e de difícil reprodução, cuja descrição verbal nunca será precisa. Mesmo que fosse possível reproduzir a cor segundo a observação de determinado indivíduo, já haveria variações de tonalidade ou de iluminação. Assim sendo, a cor é uma para cada pessoa, só sendo possível uma aproximação pela linguagem e comparação de referências.  

A cor seria, então, singularidade. A linguagem poderá abrir espaços necessários para que ela possa ser imaginada, de maneira que a relatividade das cores seja substituída 
pela da linguagem. Porém a linguagem fornecerá mais recursos por ser menos indutiva, logo, mais ampla. Amplitude a ser vista como aspecto positivo tanto das cores quanto da linguagem.

É possível argumentar que a cor pode ser mais bem trabalhada textualmente em certas situações, assim, possibilitando a expansão da imaginação. O mesmo ocorre com algumas cores do espectro solar, especificamente com a cor amarela. Ela é a mais expansiva. É uma cor-pigmento primária, por isso não se decompõe em duas ou três, sendo violeta sua complementar.  

Como cor-luz, porém, é secundária, fruto da mistura entre vermelho e verde. “Amplo e ofuscante como uma corrida de metal incandescente, é a mais desconcertante das cores, transbordando dos limites onde se deseja encerrá-lo, parecendo sempre maior do que é na realidade, devido à sua característica expansiva” (PEDROSA, 1980, p. 112).  

Para Kandinsky, o amarelo irradia. Realiza um movimento excêntrico que se aproxima visivelmente do espectador, e que, talvez por isso, fique mais facilmente impregnada na memória, por ser facilmente identificada. Sua capacidade de expansão ajuda sensivelmente sua percepção, sendo possível,  atualmente, identificar o maior uso dessa faixa de emissão solar, pois ela certamente será vista. 

Confirmando a teoria de Klee, quanto maior a intensidade ou capacidade de expansão da cor, menor a superfície exigida. Para o amarelo, uma pequena porção já o 
torna visível, mesmo quando é apenas um pequeno fragmento no meio de uma infinidade de cores, se destaca sempre. Não se deve deixar de ressaltar, no entanto, de qual amarelo se fala aqui: daquele amarelo que se aproxima mais da cor pura, do amarelo mais característico, não rebaixado pelo branco ou escurecido pelo negro, perdendo intensidade luminosa ou croma

Para Kandinsky, o amarelo irradia. Realiza um movimento excêntrico que se aproxima visivelmente do espectador, e que, talvez por isso, fique mais facilmente impregnada na memória, por ser facilmente identificada. Sua capacidade de expansão ajuda sensivelmente sua percepção, sendo possível,  atualmente, identificar o maior uso dessa faixa de emissão solar, pois ela certamente será vista. Confirmando a teoria de Klee, quanto maior a intensidade ou capacidade de expansão da cor, menor a superfície exigida. Para o amarelo, uma pequena porção já o torna visível, mesmo quando é apenas um pequeno fragmento no meio de uma infinidade de cores, se destaca sempre. Não se deve deixar de ressaltar, no entanto, de qual amarelo se fala aqui: daquele amarelo que se aproxima mais da cor pura, do amarelo mais característico, não rebaixado pelo branco ou escurecido pelo negro, perdendo intensidade luminosa ou croma. 

Kandinsky afirma também que “se sabe que a claridade intensa, a alta saturação e as cores que correspondem a vibrações de longitude de onda larga produzem excitação” 


É isso que acontece com a cor amarela. É verdade que o amarelo carrega um brilho não encontrado em nenhuma outra cor, se expande aos olhos de quem a fita, e que sua capacidade de rápida impregnação na retina rapidamente o ajuda a ser arquivado na memória - onde fica até que a lembrança o busque; mas nada o faz ficar inalterado. 

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5 - NO SILÊNCIO DA CRIAÇÃO
W. B. YEATS
Ali naquele andaime repousa Michelangelo. Mais silenciosa do que um camundongo, sua mão se move de um lado para outro. Como uma mosca flutuando na correnteza, sua mente se move no silêncio. 
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6 - INSPIRAÇÃO E O FLUIR DO TEMPO
NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na arte. São Paulo: Summus, 1993.

Aquele que se prende à alegria destrói as asas do viver; mas aquele que beija a alegria durante o vôo vive um eterno amanhecer
William Blake

Quando se fala de improvisação, a tendência é pensar numa forma livre de fazer música, teatro ou dança; mas, além de suas próprias delícias, essas formas de arte são uma porta para uma experiência total na vida cotidiana, todos nós somos improvisadores. A forma mais comum de improvisação é a fala. Quando falamos e ouvimos, estamos recorrendo a um conjunto de blocos (vocabulário) e de regras para combiná-los (gramática). E esses nos são oferecidos pela nossa cultura. Mas as frases que construímos com eles talvez nunca tenham sido ditas antes e nem venham a ser ditas depois. Toda conversa é  uma forma de jazz. A atividade da criação instantânea é tão normal para nós quanto a respiração.

Não importa o que estejamos criando, seja arte ou seja um simples prato culinário, improvisamos quando seguimos o fluir do tempo e o desdobrar de nossa consciência, e não um roteiro predeterminado ou uma receita. Na criação da obra de arte, há dois momentos distintos: o momento da inspiração, em que uma intuição de beleza ou verdade chega ao artista, e a luta, geralmente difícil, para manter a inspiração durante tempo suficiente para transportá-la para o papel ou a tela, para o filme ou a pedra. Um romancista pode ter um momento de insight (literalmente um flash) em que se revelam o nascimento, o significado e o propósito de um novo livro, mas talvez leve anos para escrevê-lo. Durante esse tempo, enquanto tem que manter as idéias frescas e claras, ele precisa comer, viver, ganhar dinheiro, sofrer, conviver com os amigos e fazer todas as coisas que um ser humano faz {...}

Na improvisação, há apenas um momento. A inspiração, a estruturação técnica e a criação da música, a execução e a exibição perante uma platéia ocorrem simultaneamente, num único momento, em que se fundem memória e intenção (que significam passado e futuro) e intuição (que indica o eterno presente). O ferro está sempre em brasa.

A inspiração, vivenciada como um flash instantâneo, é uma experiência deliciosa e revigorante que pode se prolongar por toda a vida. A criação de um simples verso traz consigo uma incrível corrente de energia, coerência e clareza, exaltação e exultação. Nesse momento, a beleza é palpável, viva. O corpo se sente forte e leve. A mente parece flutuar facilmente pelo mundo. Emily Dickinson disse que o poema é exterior ao tempo. A improvisação é também chamada de extemporização, que significa tanto “fora do tempo” quanto “proveniente do tempo”.

Mas esse belo sentimento não é suficiente. Como muitas outras sensações de beleza ou de alegria, ele pode nos trair surgindo num momento e desaparecendo no momento seguinte. Para resultar numa obra de arte tangível, ou numa contínua improvisação, a inspiração criativa precisa se sustentar no tempo. Fazer arte apenas pelo sentimento de totalidade e comunhão no momento de inspiração seria o mesmo que fazer amor apenas pelo momento do orgasmo.

A tarefa do improvisador é portanto esticar esses momentos, prolongá-los até que eles se misturem à atividade do dia-a-dia. Então começamos a vivenciar a criatividade e a improvisação como uma atividade normal em nossa vida. O ideal – do qual podemos nos aproximar, mas que nunca atingimos plenamente, porque todos nós nos sentimos bloqueados durante certos períodos – seria  um fluxo ininterrupto de vivências momentâneas. É a isso que muitas tradições espirituais se referem quando falam de “cortar lenha, carregar água” – trazer para as atividades rotineiras da vida diária a luminosidade, a profundidade, a simplicidade contida na complexidade que vivenciamos nos momentos de inspiração. Então poderemos dizer, como os balineses: “Não temos arte. Tudo o que fazemos é arte”. Poderemos levar uma vida ativa sem nos prendermos tanto a roteiros ou rígidas expectativas: fazer sem se preocupar com o resultado, porque o fazer é em si mesmo o resultado.

Caminhar por uma cidade desconhecida seguindo a intuição é muito mais gratificante do que uma excursão  planejada por lugares testados e aprovados. Mas esse passeio é totalmente diferente de perambular a esmo. Mantenha os olhos e ouvidos bem abertos e deixe-se guiar por seus gostos e aversões, seus desejos e irritações conscientes ou inconscientes, seus palpites irracionais, cada vez que for preciso decidir virar à direita ou à esquerda. Você estará abrindo ma trilha só sua, que o colocará frente a frente com surpresas destinadas exclusivamente a você. Encontrará amigos, pessoas interessantes. Viajando dessa maneira você estará livre; não existem deveres e obrigações. A única coisa que você talvez precise planejar é o horário de partida do avião. Daí para frente, à medida que as pessoas e os lugares foram se desdobrando à sua frente, a viagem, como uma peça musical improvisada, irá  revelando sua estrutura interna e seu próprio ritmo. Cabe a você criar o cenário para encontros decisivos.

Existem muitas situações em que somos impropriamente solicitados a planejar ou roteirizar o futuro. A comunicação que se estabelece no relacionamento humano, em particular, torna-se confusa e distorcida quando não vem diretamente da mente e do coração. É por isso que instintivamente sentimos a falsidade dos discursos políticos. Geralmente sentimos um certo mal-estar sempre que alguém lê  um discurso preparado – mesmo um bom discurso – em vez de nos falar diretamente. Se você  for dar uma palestra, convém preparar o que deve dizer para organizar as idéias, mas, quando estiver diante do público, jogue fora os rascunhos e fale diretamente com as pessoas presentes.



Muitas escolas seguem um programa que estipula o que os alunos devem aprender, e ainda como e quando eles vão aprender. Mas numa verdadeira sala de aula, seja no jardim-de-infância, na universidade ou na escola da vida, existem pessoas com necessidades particulares e diferentes níveis de conhecimento. Um empurrãozinho numa determinada direção pode mudar a perspectiva do aluno; depois de uma discussão, ele saberá  que uma determinada leitura será  conveniente, pois lhe parecerá o passo seguinte no fluxo natural do aprendizado. Não se podem planejar essas coisas. É preciso ensinar cada pessoa, cada classe, em cada momento: cada caso exige uma atenção particular. Planejar o aprendizado sem conhecer as pessoas que irão aprender, suas potencialidades e deficiências, a maneira como elas interagem, significa impedir que as surpresas e o verdadeiro aprendizado ocorram. A arte do professor é pôr em contato, no tempo real, os corpos vivos dos estudantes com o corpo vivo do conhecimento.

Mas também existem situações em que um comportamento planejado é apropriado. Se vou dar um concerto improvisado, posso deixar que aquilo que vou tocar e a maneira como vou tocar fluam do meu sentimento no momento. Mas se anunciei meu concerto para as 8h30 da noite de sábado, e as pessoas planejaram suas vidas para chegar a essa hora, então aconteça o que acontecer, vou estar lá e pronto para tocar. E se esse concerto estiver programado para uma outra cidade, a última coisa que desejaria enfrentar seria uma improvisação nos horários das companhias aéreas.

Um amigo meu que é médico me perguntou o que um assunto tão efêmero como a criatividade espontânea tem a ver com alguém como ele, cujo trabalho é prático e científico. Eu lhe respondi com uma pergunta: “onde está a arte na medicina?”. Ele me disse que na falsa medicina o médico encara o paciente como um exemplo de um livro de casos médicos: vê o paciente como um grupo genérico de sintomas e tenta classifica-lo de acordo com o que seus professores lhe ensinaram. Na verdadeira medicina, cada pessoa é única – num certo sentido, o médico deixa de lado o conhecimento puramente técnico. Ele mergulha no caso, deixando que sua visão se forme de acordo com aquele contexto particular. É claro que ele usa aquilo que aprendeu, utiliza seus conhecimentos como referência para entrar no campo da presença. Para fazer qualquer coisa com arte é preciso adquirir técnica, mas criamos por meio de nossa técnica, e não com ela.

A fidelidade ao momento presente exige uma contínua entrega. Talvez estejamos nos entregando a algo delicioso, mas ainda assim temos de desistir de nossas expectativas e de um certo grau de controle sobre nossa vida. Continuamos engajados na importante atividade de planejar – não para trancar o futuro num esquema rígido, mas para afinar o ser. Quando planejamos, focalizamos nossa atenção no campo em que estamos prestes a entrar; então nos libertamos do plano e descobrimos a realidade do fluir do tempo. Assim, passamos a viver em sincronicidade.

Como músico improvisador, não estou no campo da música, nem da criatividade; estou no campo da entrega. Improvisar é aceitar, a cada respiração, a transitoriedade e a eternidade. Sabemos o que poderá acontecer no dia seguinte ou no minuto seguinte, mas não sabemos o que vai acontecer. Na medida em que nos sentimos seguros do que vai acontecer, trancamos as possibilidades futuras, nos isolamos e nos defendemos contra essas surpresas essenciais. Entregar-se significa cultivar uma atitude de não saber, nutrir-se do mistério contido em cada momento, que é certamente surpreendente, e sempre novo.

Desde os anos 60, a questão psicológica de viver o momento presente tem se tornado uma preocupação constante. Ela passou a ser vista como uma das chaves da realização pessoal e, sob diversas formas, tem sido o ensinamento de milhares de mestres e gurus. A popularidade dessa idéia nos revela que tocamos numa questão de vital importância para nossa época, e ela floresce em todos os campos, do amor romântico à física quântica.


Uma verdade que comprovamos na prática em nossa vida é que não sabemos nem podemos saber o que vai acontecer no dia ou no minuto seguinte. O inesperado nos aguarda a cada esquina e a cada respiração. O futuro é um mistério que se renova perpetuamente. Quanto mais vivemos e conhecemos, maior é esse mistério. Quando nos livramos das idéias preconcebidas que nos cegam, somos virtualmente impulsionados por cada circunstância a viver o momento presente: o presente, o presente total, e nada mais que o presente. É esse estado mental que a improvisação nos ensina e fortalece em nós, um estado de mente em que o aqui-e-agora não é apenas uma idéia, mas uma questão de vida ou morte, a partir da qual podemos aprender a confiar – a acreditar que o mundo é uma perpétua surpresa em perpétuo movimento. E um perpétuo convite à criação.

Qualquer bom músico de jazz possui inúmeros truques de que pode se servir quando se vê num beco sem saída. Mas para improvisar você precisa abandonar esses truques, entrar no vazio e aceitar riscos, até  mesmo o de dar com a cara no chão de vez em quando {...}.

A vida criativa é uma vida de riscos. Seguir o próprio curso, sem o molde estabelecido por pais, colegas ou instituições envolve um frágil equilíbrio entre tradição e liberdade pessoal, um frágil equilíbrio entre apegar-se aos próprios princípios e estar aberto á mudança. Embora, sob alguns aspectos, você esteja vivendo uma vida normal, por outro lado você é um  pioneiro, aventurando-se num território desconhecido, quebrando moldes e modelos que inibem o desejo do coração, criando vida à medida que ela se desenrola. Ser, atuar, criar no momento presente, sem muletas ou suportes, sem segurança, pode dar medo. Dar um passo para o desconhecido pode levar à alegria, à poesia, à invenção, ao humor, a amizades para toda a vida. Mas também pode levar ao fracasso, ao desapontamento, à rejeição, à doença e até à morte.

No trabalho criativo, jogamos abertamente com a transitoriedade de nossa vida, com uma certa consciência de nossa morte. Ouçamos a música que Mozart compôs no fim da vida: nela ouviremos a leveza, a energia, a transparência e o bom humor, mas também o sussurro de fantasmas. A vida e a morte estavam muito próximas dele. Foi exatamente essa intensa comunhão com as forças primais que se fundiam nele – e a liberdade com que ele tocava com essas forças – que fez de Mozart o artista soberbo que ele foi.

Cada momento é precioso precisamente porque é efêmero e não pode ser repetido, corrigido ou capturado. Achamos que tudo o que é precioso deve ser guardado e preservado. Queremos registrar a beleza, um desempenho inesperado. De fato, muitas grandes performances tem sido gravadas, e estamos felizes por possuí-las. Mas as melhores performances escapam à câmera, ao gravador ou à caneta. Acontecem no meio da noite, quando o músico toca para um amigo especial à luz da lua; acontecem no camarim, pouco antes do espetáculo. O fato de a improvisação se desvanecer nos faz entender que cada momento da vida é único – como um beijo, um pó-de-sol, uma dança, uma piada. Nada voltará a ocorrer exatamente da mesma maneira. Tudo acontece apenas uma vez na história do universo.




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7 - INDIVIDUAÇÃO E CRIATIVIDADE
OSHO
Você consegue ser criativo somente como indivíduo.

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8 - RICHARD NOYCE: O PROCESSO ARTÍSTICO

RICHARD NOYCE
Todas as experiências pessoais de arte tem, por definição, serem subjetivas. E é difícil, emocionalmente e moralmente, acreditar em absolutos na arte. O que nos resta é a nossa própria reflexão pessoal, que pode começar com uma reação instintiva e, em seguida, ampliar-se como as ondas de uma pedra em uma piscina, até que haja algum tipo de entendimento mais profundo e mais permanente, um desafio que pode muito bem ser colocado em palavras.


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